A CIDADE E SEU DUPLO
Marco do Valle e Abílio Guerra
Robô Motoman realizando e apagando desenhos na areia e projeções.
A instalação de Abílio Guerra e Marco do Valle, Cidade e seu duplo, também investiga as transformações nos mecanismos de percepção do habitante da metrópole contemporânea. No chão, recoberto por uma extensão de areia, um robô computadorizado, dotado de uma câmera. Seu braço mecânico risca na areia um desenho programado, que remete a um traçado urbano. Um gesto de projetar continuamente apagado e reiterado.
A tela do computador é interativa: ícones de São Paulo e Palmanova dão acesso a dois conjuntos de imagens. De São Paulo, monumentos, edifícios, torres e avenidas são apagados. Da antiga cidade italiana aparece, de diversos pontos de vista, uma passarela. Todas as imagens, projetadas na areia, vão-se sucedendo e interando aleatoriamente, produzindo um encobrimento entre as duas cidades.
Percepção urbana que coloca em questão, ao mesmo tempo, as noções de identidade e estranhamento, sedentarismo e nomadismo, diante da metrópole. Nossa convicção da permanência dos marcos urbanos vai sendo contestada pela supressão deles na imagem, pela dissolução do traçado das ruas feita pelo robô. Uma dupla operação é engendrada: o apagamento de elementos urbanos característicos e a construção de um projeto arquitetônico em um locus estrangeiro. Supressão do familiar e surgimento do estranho. Trabalho de obliteração e reconstituição da paisagem da metrópole contemporânea.
(Nelson Brissac Peixoto – “A cidade e seus fluxos” – Arte/Cidade 2, 1994)