TOPOGRAFIA ARTIFICIAL
Instalação.
1988 – Galeria Sérgio Milliet – FUNARTE, São Paulo.
Mais que construções, mais que objetos, as esculturas de Marco do Valle nos apresentam situações. São demonstrações de um conjunto de possibilidades. Cada situação é uma das possibilidades realizada, cada escultura um conjunto de forças que se opõem, que se anulam, que a constituem. A mera posição no chão indica a força principal a qual estão submetidas: a força gravitacional. Tudo, e também qualquer escultura, está submetido a essa força. Mas aqui é como se a gravidade fosse evidenciada, aceita, manifesta: pois por que aquilo que pode assumir a verticalidade ficaria tão próximo do chão? Não é só o fato de que há uma força contrária; seria fácil vencê-la, mas ela, a escultura, não quer. Essas situações não exprimem um desejo de elevar-se, conquistar a verticalidade; querem ficar ali, próximas àquilo que nos permite ficar de pé. Ao chão elas pertencem como acidentes geográficos artificiais. Acidentes geográficos podemos contemplar de longe, podemos escalá-los, difícil tropeçar neles. Aqui os encontramos tão próximos do chão que são os pés, antes que nossos olhos, que os denunciam. É o nosso ponto de afinidade com elas. É ao chão que somos remetidos, é para baixo que olhamos, num movimento que também se submete à força que essas esculturas manifestam.
Poderíamos imaginar uma possível relação com a land-art, na medida em que essas esculturas são também uma alteração na topografia, criação de uma topografia artificial. Daí talvez possamos falar de uma land-art de laboratório, preocupada em construir suas situações sem a onipotência de transformar a natureza. Discretamente assume a galeria como laboratório, o espaço com ambiente topográfico.
(Paulo Venâncio Filho – “Topografia Artificial” – “Artistas Brasileiros na 20ª Bienal Internacional de São Paulo”, 1989)